quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Memórias de uma assistente de bordo #1



Pois que de quando em vez acontecem algumas cenas mirabolantes a bordo e algumas já sei que vou carregar até ao resto da minha existência (ou até o senhor Alzheimer começar a dar um arzinho de sua graça), enquanto que outras vão caindo no esquecimento e são raramente relembradas.
Por causa disso resolvi começar esta espécie de crónica, que não vai ser semanal nem mensal, mas sim sempre que acontecer alguma coisa digna de ser relatada (sim, também há dias aborrecidos e com passageiros decentes) ou sempre que eu me lembrar de alguma história antiga digna de interesse.
Deixemo-nos então de paleio e vamos lá estrear-nos com um dos primeiros momentos de adrenalina da minha carreira.
Estávamos quase a chegar a Paris quando os pilotos nos dizem que vamos ter de trocar de avião depois de aterrarmos porque há uma tripulação de Prestwick (Escócia) que está à espera que venha um engenheiro da base mais próxima para ver o avião deles. Isto porque foram atingidos com um raio quando estavam a aterrar.
Animador. Assim sendo, trocamos de avião para o voo deles não atrasar tanto e ficamos à espera durante mais de uma hora, em amena cavaqueira claro está. Quando o senhor engenheiro finalmente chega demora menos de 10 minutos a ver o que tem a ver e siga para embarque. Tudo a postos para voltar a Madrid, descolamos e... Vê-se um clarão e ouve-se um enorme estrondo qual explosão de dinamite. Sim senhores, tínhamos acabado de levar com um raio. Passageiros em pânico (mal sabiam eles que era o segundo raio num espaço de horas a cair no mesmo avião) eu olho para o supervisor a tentar manter a calma (afinal de contas era a minha segunda semana), ele muito tranquilamente fala com os pilotos e dá uma breve explicação aos passageiros que os deixa muito mais calmos.
Por incrível que pareça, levar com um raio em cima, quando se está num avião, não é nada do outro mundo. Ok, sim, borra-se a cuequinha (perdoem-me a expressão) e apanha-se um susto daqueles, mas desde que o raio entre por um lado e saia pelo outro - que foi o que aconteceu - não há problema, até porque os aviões hoje em dia estão preparados para isso.
Bela experiência para a segunda semana.
Sempre gostei de me estrear em grande.

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