Estava eu, descansadinha da vida, sentada na cafetaria do aeroporto de Madrid a ocupar uma mesa com 4 lugares (são todas duas mesas juntas com quatro cadeiras e sim, esta informação é relevante), a ouvir música e a jogar solitaire no iPod.
Já lá estava há umas boas duas horas a matar tempo quando eis que um casal começa a mexer nas cadeiras do outro lado, o que me levou ao pensamento do "que mal-educados, nem sabem pedir primeiro".
Mas não pessoas, eles não se limitaram a mexer ou a levar as cadeiras. Abancaram com todo o seu esplendor, mesmo a minha frente sem um "Olá!", "Bom dia!", "Boa tarde!", "Boa noite!", nem se quer um "Com licença!", quanto mais um "Dá licença?".
E sim, havia mesas livres. Não muitas e talvez não tão limpas, mas havia!
Até o meu mau feitio ficou sem reacção com tamanho desplante.
E como se já não bastasse alaparem os seus reais rabos nas cadeiras à minha frente, ainda começaram a sacar de bolachas e garrafas de água e a pô-las em cima da mesa, como se aquilo fosse tudo deles.
Bem feito teria sido eu, com uma lata descomunal e muito naturalmente, servir-me de uma bolacha sem dizer nada. Mas não, bambi que sou, fiquei quietinha a rogar-lhes pragas e a fulminá-los com os olhos.
Por um momento, ainda ponderei se seriam mudos, mas trocaram umas palavras de espanhol entre eles, por isso, ficou a desculpa sem efeito.
Uns minutos depois a mesa mesmo ao nosso lado ficou vazia e eu ainda olhei para eles, depois para a mesa, para eles novamente e para a mesa outra vez e assim por diante, a ver se as criaturas se tocavam e passavam para a mesa do lado.
Mas é claro que nem se mexeram.
A menina (besta), começou a preparar-se para dormir na cadeira e eu, já não tão bambi, comecei a pôr em prática o plano B. E não, esse plano não era o "se não podes vencê-los, junta-te a eles", mas sim o "se eles não te ligam nenhuma e fingem que não existes, toca a irritá-los de maneira discreta" (bambi, bambi, bambi! Mas, ao menos, fiz alguma coisa).
Olhei para as unhas e achei que era uma excelente ideia mudar o verniz. Toca de sacar o frasquinho removedor e, hum... que cheirinho a acetona. E toca a demorar, que eu até tenho tempo, e a tirar o verniz como deve de ser e até mais do que o necessário, e as unhas já não têm verniz nenhum, mas passa mais uma vez (S. - 1, Bestas - 0).
A seguir, como é óbvio, foi a altura de pôr verniz. Mais um cheiro encantador. Mais uma lentidão de renome. Ele foi pôr a base primeiro, qual preguiça em hibernação, ele foi pintar uma unha e olhar bem para ela, pintar a próxima e ver se não escapou nada... até estarem os dez dedinhos com o maravilhoso particuliére. E a seguir, como é óbvio, toca de repetir a dose que duas camadas é que é. E cheiro a verniz é tão bom (S. - 2, Bestas - 0).
Acabadas as unhas, e como ainda faltavam umas boas horas, toca de voltar a ouvir música. Mas, desta vez, a marcar o ritmo com o pezinho a bater na mesa, da forma mais irritante possível. Toc, toc, toc, toc, toc, toc, ... (S. - 3, Bestas - 0)
Quando me fartei da música e do solitário, passei para o meu livro. E toca de continuar a bater com o pé na mesa, qual pessoa com tique nervoso ou qual livro mais empolgante ao ponto de me deixar super ansiosa pelo desfecho. Toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc, ... (S - 4, Bestas - 0).
Quando dei por eles, estavam deitados nas cadeiras e já a uma boa distância da mesa (digam todos em coro comigo: "ohhhhhhhh...").
Depois lá foram a vidinha deles, tão mudos como quando chegaram. E pude voltar à minha quietude e a acalmar a mean girl que há em mim.
Vitória, vitória... e acabou-se a história.
PS - Espero do fundinho do meu coração que os bixos se tenham perdido no aeroporto, no meio das lojas de duty free e tenham acabado por perder o vôo. Humpf.
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