terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Mitos aéreos I – Idades versus competência




No dia-a-dia vamos conversando com vários passageiros e ouvindo perguntas e comentários aqui e ali, e vamo-nos apercebendo que há vários mitos sobre a aviação que merecem ser desvendados.
O primeiro que vou mencionar é sobre idades e competência a bordo.

Pois que nem sempre o ou a supervisor(a) de cabine é a pessoa mais velha da tripulação, mas sim a que está há mais tempo na companhia e, consequentemente, a que tem mais experiência.
Há uns dias estive a voar com uma supervisora irlandesa que tem 26 anos, mas que aparenta ter menos, e que já tem 6 de casa. Toda a tripulação rondava os vinte e poucos e houve uma passageira que fez um qualquer comentário sobre sermos todos muito novos. Por um lado até me alegrou que ela nos visse como alguém que está ali para a segurança dela e de todos os outros passageiros e não para servir cafés e distribuir almofadas. Por outro espanta-me que alguém pense que uma companhia aérea deixe 4 “miúdos” inexperientes (segundo o pensamento dela) tomar conta de um avião que leva até 189 passageiros.

A maior parte das pessoas já deve de estar farta de saber que temos um treino muito intensivo antes de começarmos a voar e que temos que estudar desde situações de emergência a primeiros socorros e que há procedimentos para tudo e mais alguma coisa. O que se esquecem é que todos temos de saber tudo na ponta da língua todos os dias, porque nos são feitas perguntas antes de irmos voar, mas que tudo o que sabemos é na teoria. Ninguém está realmente preparado para uma catástrofe aérea ou para uma verdadeira emergência médica (leia-se de grande gravidade, como um ataque cardíaco), por mais treinos e simulações que se façam.

Posto isto, só por alguém parecer muito novo, não significa que não tenha já uns anos de experiência e só por aparentar ser mais velho, não implica que já tenha muitos anos de casa. E a grande diferença entre alguém que tenha 3 meses de experiência e alguém que tenha 3 anos, é tão simplesmente a eficiência na resposta a coisas quotidianas no avião, tais como perguntas dos passageiros, ligar com crianças e bebés, lidar com os colegas, medir reacções de passageiros e dar respostas consoante as situações, de forma a que esteja toda a gente feliz e o vôo seja tão agradável quanto possível. Mesmo assim, não seria a primeira vez que alguém a trabalhar há apenas uma semana mostrava mais sensibilidade do que alguém que já voa há vários anos. Mas isso não acontece só na aviação.

Mais mitos nos próximos capítulos.

Bisoux, bisoux
With Love
S.

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